Por que o rendimento cai?
- renatobaldissera

- 14 de jul.
- 3 min de leitura
Gerencio uma equipe de profissionais de limpeza de uma franquia que faço parte. São 10 mulheres autônomas que trabalham como diaristas em diversos estabelecimentos e residências. Por serem autônomas e apenas agenciadas, não podemos aplicar uma política de metas, premiações ou punições formais.
Essa é uma gestão bastante desafiadora, pois envolve constantes faltas, atrasos e variações na qualidade do trabalho. Nesse cenário, de “mãos atadas”, experimentei a famosa estratégia de elogiar bons resultados e abordar maus resultados de forma sutil.
Durante esse processo, descobri mais um ensinamento prático de Daniel Kahneman: existem flutuações aleatórias na qualidade do desempenho. Ou seja, uma sequência de bons resultados pode ser seguida por uma queda de rendimento — e o contrário também acontece — independentemente de elogios ou críticas.
Sorte, talento e a oscilação natural
Por inúmeras variáveis que não conseguimos prever com exatidão, o desempenho de uma pessoa pode variar de um dia para o outro — seja de um funcionário, um jogador de futebol ou um vendedor. Kahneman mostra que não é apenas o talento que define os resultados: a sorte também tem papel fundamental.
Segundo ele, um jogador de golfe que teve um bom desempenho num dia tem mais chances de ir mal no dia seguinte, simplesmente porque a sorte tende a oscilar.
Ele cita o famoso exemplo da “maldição da capa da Sports Illustrated”: atletas que estampam a capa da revista por estarem em excelente fase normalmente vão muito mal na temporada seguinte. Embora possamos achar que isso ocorre por excesso de confiança ou pressão, Kahneman afirma que a explicação mais provável é a seguinte: a sequência de sorte que favoreceu o desempenho anterior não se mantém.
A regressão à média e seus efeitos
Essa observação me fez refletir sobre um erro comum entre gestores: elogiar em excesso por desempenhos extraordinários ou punir com rigor quedas de desempenho.
Algumas consequências:
Elogios mal direcionados: quando o elogio se baseia em um resultado que dependeu muito da sorte (e não de esforço ou competência sustentada), ele se torna ineficaz. A pessoa sabe que dificilmente conseguirá repetir o feito, e isso pode gerar frustração.
Punições injustas: punir um desempenho ruim que ocorreu por causa da regressão à média pode causar prejuízos psicológicos desnecessários. Isso gera frustração, revolta e até baixa autoestima. A pessoa pode passar a acreditar que é incapaz, quando, na verdade, estava apenas oscilando dentro do esperado.
Tenha tolerância com as oscilações de desempenho
Acredito que premiações e elogios são melhores do que críticas e punições, especialmente em contextos de trabalho mais sensíveis, como o das diaristas que gerencio. Essa abordagem positiva é apoiada por diversas pesquisas com humanos e animais. Entretanto, para evitar desgastes emocionais e a perda desnecessária de boas profissionais, é essencial lembrar do fenômeno da regressão à média: todo desempenho oscila com o tempo. Saber disso ajuda a manter a calma, ser justo e ter uma liderança mais empática e estratégica.
📚 Referência:KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
Autor: Renato Baldissera
Economista e estudioso do comportamento humano nas relações de trabalho, gestão e vendas.
Criador da Capital Interno
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