A Armadilha de muitos Projetos: Por que Falhamos ao Ignorar os Dados?
- renatobaldissera

- 14 de jul.
- 3 min de leitura
Em nossa trajetória profissional, é comum traçarmos planos e projetos com base naquilo que já vivenciamos. Confiamos em nossa experiência, nas habilidades que desenvolvemos ao longo do tempo e na intuição que construímos. No entanto, esse caminho pode nos levar a erros estratégicos importantes — principalmente quando ignoramos dados concretos e estatísticas relevantes.
Um dos principais equívocos cometidos ao planejar novos projetos é desconsiderar o que os números do mercado, do setor ou de bases estatisticas anteriores têm a nos dizer. Muitas vezes, projetamos com base no “achismo” e nos esquecemos de consultar o que os dados indicam historicamente. É aí que entra um conceito fundamental: a linha de base.
O que é a linha de base?
A linha de base é uma referência estatística construída a partir de dados históricos confiáveis. Ela serve como ponto de partida para comparações e estimativas mais realistas. Ao projetar qualquer iniciativa — seja um negócio, uma pesquisa ou uma mudança estratégica — utilizar a linha de base ajuda a evitar previsões irreais ou otimistas demais.
O psicólogo e ganhador do Prêmio Nobel Daniel Kahneman explica esse conceito de forma bastante clara: a previsão de linha de base é aquela que fazemos sobre um caso quando tudo o que sabemos é a categoria à qual ele pertence.
Por exemplo: se alguém perguntar qual é a altura de uma mulher e a única informação disponível é que ela mora em São Paulo, a melhor estimativa seria a média de altura das mulheres da cidade. Somente depois, com dados mais específicos (como o fato de ela jogar basquete ou ser atleta), é possível ajustar essa estimativa para mais perto da realidade.
A ilusão do conhecimento individual
Kahneman também aponta um comportamento bastante comum: quando temos informações sobre um caso específico, tendemos a desprezar a média estatística da categoria. Achamos que o conhecimento do detalhe nos dá vantagem — mas, muitas vezes, ele nos afasta da realidade e nos conduz a erros de julgamento.
Esse comportamento nos leva à chamada falácia do planejamento, um fenômeno em que superestimamos nossa capacidade de prever os resultados de um projeto, ignorando os obstáculos recorrentes e os dados de empreendimentos semelhantes que falharam ou tiveram dificuldades.
A importância da visão de fora
Para evitar esse tipo de erro, é essencial adotar o que Kahneman chama de visão de fora. Em vez de olhar apenas para o projeto em si e suas particularidades, é importante analisar iniciativas semelhantes e seus desfechos. Essa abordagem traz uma perspectiva mais realista, baseada em evidências concretas — e não apenas em nossas expectativas ou esperanças.
A visão de fora funciona como um antídoto à falácia do planejamento. Ao investigar o desempenho de outros projetos parecidos com o que se deseja realizar, conseguimos ajustar nossas estimativas, prever riscos com mais clareza e, consequentemente, aumentar as chances de sucesso.
Conclusão
Projetar sem dados é como navegar sem bússola. A confiança na experiência pessoal é importante, mas não pode substituir a análise de dados estatísticos e históricos. Adotar uma visão de fora e utilizar a linha de base como referência são práticas que ajudam a tornar nossas decisões mais lúcidas, fundamentadas e eficazes.
Antes de iniciar qualquer novo projeto, pergunte-se: estou me baseando em fatos e dados históricos ou apenas em minha confiança? A resposta a essa pergunta pode ser o divisor de águas entre o sucesso e o fracasso.
Autor: Renato Baldissera
Economista e estudioso do comportamento humano nas relações de trabalho, gestão e vendas.
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